23 novembro, 2007

The Smiths - The Queen Is Dead (1985)


Quando em 1982, Steven Patrick Morrissey, Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce formaram os Smiths dificilmente pensariam vir a ser, quatro anos mais tarde, os autores de uma obra como The Queen is Dead. O penúltimo álbum de originais da banda de Manchester é o diamante lapidado ao longo de uma carreira recheada de tesouros que muitos ainda desconhecem. The Queen is Dead é a confirmação da assinatura Marr/Morrisey como um selo de garantia de qualidade pop. Os Smiths juntavam-se aos Beatles, Beach Boys e a poucos outros no panteão dos fazedores de canções pop perfeitas, daquelas que se entranham, que se recusam a calar e que, tal como um cônjuge ideal, ficam conosco até que a morte nos separe.The Queen is Dead inicia o álbum. Um épico rock de 6 minutos em que o baixo saltitante de Rourke e a guitarra quase funk de Marr dão o mote para o brilho de Morrisey que nos canta “life is very long when you're lonely". Depois da pop alegre e descomprometida de Frankly, Mr. Shankly, seguem-se dois clássicos de Smiths: I Know It's Over, sobre o fim de todas as relações, mesmo das que nunca começaram, e Never Had No One Ever, um exercício mórbido de contagem dos dias de vida como a duração de um pesadelo. Cemetry Gates são 2:41 minutos que passam a voar, uma celebração dos dias quentes e das coisas boas que trazem. Bigmouth Strikes Again atira-nos à cara com tiradas irónicas e deliciosas, impõe o movimento das ancas e exige o modo repeat na aparelhagem. The Boy With the Thorn in His Side pede-nos a cantoria. O rockabilly de Vicar in a Tutu obriga-nos a dançar, um último fôlego antes da grande canção do álbum e talvez de toda a obra dos Smiths: There is a Light That Never Goes Out, uma das melhores canções já escritas, uma história de alguém que acha que morrer ao lado de quem ama seria um privilégio. Mesmo uma morte terrível como serem esmagados por uma camioneta ou um caminhão. A perfeição condensa-se em quatro minutos. There is a Light That Never Goes Out seria um final grandioso para o álbum, mas os Smiths trocam as voltas ao ouvinte e terminam com Some Girls Are Bigger Than Others uma música balbuciante da qual guardamos mais uma pérola da escrita de Morrisey: "some girls are bigger than others, some girls mothers are bigger than other girls mothers".The Queen is Dead é um doce pop a que voltamos sempre sem risco de enjoar. Um disco que, tal como os outros de Smiths, assume a melancolia e a tristeza como fonte de belas canções, mas que não esquece a ironia apurada, o humor e a sátira social. Dez canções que formam um todo viciante, que ora nos dão murros no estômago, ora nos provocam um sorriso. Um disco a que regressamos sempre e que urge (re)descobrir. (texto: Pedro Rios)

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