Vocalista da banda Simple Minds fala sobre a década de 1980, 30 anos de carreira e o show em Brasília.
Os ventos da música pop nem sempre facilitaram o voo do Simple Minds. Mas, prestes a gravar o 16º disco da carreira, uma das bandas mais populares dos anos 1980 parece finalmente ter aprendido a não se abalar pelas turbulências do showbusiness. Regra número um: fazer justiça ao próprio nome. Simples como nunca, essa aeronave trintona, escocesa, desembarca em Brasília no dia 21, no Ginásio Nilson Nelson. “Nossa missão é provar aos brasileiros que ainda temos energia. Somos uma banda melhor do que aquela dos anos 1980”, garante o vocalista Jim Kerr, 51 anos, o piloto inabalável.
O autor de sucessos como Alive and kicking conversou com o Correio por telefone, de um hotel em Paris. No dia seguinte, o band leader cumpriria um antigo ritual: no palco do Festival des Voix du Gaou, interpretaria 22 canções que ele chama de “clássicas”. Para os fãs, o Simple Minds merece o adjetivo — mais do que um grupo de rock, trata-se de um sobrevivente. Encomendado para a trilha do filme O clube dos cinco, de 1985, o hit Don’t you (forget about me), escrito por Keith Forsey, é apenas um dos sinais de longevidade de um grupo que, por muito tempo, foi tratado como um “genérico” do U2.
É nos palcos, no entanto, que as turbinas do quarteto ganham potência máxima. Mas o traquejo não amaciou o baque que o grupo, formado em 1978, sofreu durante os anos 1990. Após várias trocas de integrantes, só restaram Kerr e o guitarrista e tecladista Charles Burchill, amigos de infância. O baterista Mel Gaynor está na banda desde 1982, mas entre idas e vindas.
A reinvenção do Simple Minds foi providenciada, em grande parte, pelos fãs. Os shows voltaram a lotar. O disco Graffiti soul, lançado no ano passado, recebeu até adjetivos bondosos da crítica. Hoje, Kerr vive entre Nice (França) e Sicília (Itália). Já Burchill mora em Roma. “Ainda somos melhores amigos. Durante a turnê, dentro do ônibus, conseguimos conversar por cinco, seis horas, sobre todo tipo de assunto”, conta Kerr.
O ativismo político — que era “in” nos anos 1980 — deixou a lista de prioridades do cantor. O mundo anda complicado, ele explica. E o pop não é mais o mesmo. Há duas décadas, o ex-marido de Chrissie Hynde (Pretenders) divagava sobre o Muro de Berlim e o apartheid. Hoje, prefere se dedicar à procura pelo refrão mais agradável e a um sutil recomeço, no projeto paralelo Lostboy. Em entrevista ao Correio, o vocalista comenta o legado do rock dos anos 1980 e explica a nova fase do grupo. “Tenho experiência, mas adoro a sensação de começar do zero”, revela.
O rock dos anos 1980 está em alta. A década foi finalmente reabilitada?
Acredito que sim. É verdade. Por muito tempo, os anos 1980 foram criticados. Diziam que era um período de pompa, de exageros. Mas acredito que, para que um determinado período da história da música seja reconhecido, sempre leva um tempo. Mas hoje, felizmente, a década voltou a ser conhecida como um período de boa música.
O Simple Minds, apesar dessa onda, se torna uma banda cada vez mais direta. É o caminho?
A banda passou a lidar com a música de uma forma mais simples. É uma forma de gravar que, no momento, nos interessa mais. É inevitável. Mas não é uma escolha radical: nós amamos os anos 1980 e amamos o tempo presente. Principalmente, amamos o que estamos fazendo neste exato momento.
As letras da banda estão menos engajadas. Política ainda combina com rock?
Eu acredito que a política mudou desde os anos 1980. Os problemas mudaram. As questões são diferentes. Nos anos 1980, a realidade mundial era muito polarizada. Era fácil identificar os malvados, os vilões. Havia Ronald Reagan, por exemplo, o Muro de Berlim, o apartheid. Agora o mundo está diferente, mais complexo. Mas ainda acho que a arte pode ajudar a organizar opiniões, a mostrar o que está acontecendo no planeta. O problema é que a música não tem mais o poder de formar grandes plateias. Nos anos 1980, todo mundo ouvia música. A mensagem chegava a todos.
Hoje, são poucas as megabandas… Ficou mais difícil formar um público grande. Meu filho mais novo, que tem 18 anos, é um exemplo disso. Ele gosta de uma banda que só tem um disco e, pouco tempo depois, deixa de gostar. Talvez tenha aumentado o deficit de atenção de quem ouve música.
Com a internet e os selos independentes, há cada vez mais bandas iniciantes. Mas poucas duram tanto quanto um Simple Minds, um U2. O que acontece?
Eu percebo muitos casos de bandas que se destacam logo na estreia. Elas aparecem e têm apenas um grande disco. Não sei o que acontece… Mas talvez não seja bom fazer sucesso logo no início da carreira. Talvez você deva buscar o sucesso depois do quarto, quinto disco. Pense em algumas das bandas mais conhecidas dos anos 1980, como o U2 e o Depeche Mode. Elas não fizeram sucesso nos três primeiros discos. Elas tiveram que gravar mais álbuns. Quando você está no começo da carreira, o momento é de aprender a sua arte. E isso demora um pouco.
Existe segredo para a longevidade no mundo pop?
Não acho que exista segredo… Mas há certas condições que são mais adequadas do que as outras. Bandas não costumam durar muito tempo. Eu sei disso. Normalmente elas acabam, é natural. Eu acho que é até uma questão de temperamento, entende? Há pessoas que são ótimos artistas, mas que não se adaptam a esse estilo de vida. Pessoas que não gostam de aparecer na mídia, que não gostam de viajar. Talvez eles sejam capazes de escrever ótimas canções, mas dão péssimas entrevistas.
Aumentou a pressão sobre as bandas novas?
Não acho que as cobranças sejam maiores. É complicado (fazer sucesso), era complicado e vai continuar a ser complicado. E acho até que essa complicação é necessária. Fazer boa arte não é coisa fácil. É claro que qualquer um deve se arriscar. Se você acha que tem talento, é importante tentar. Mas não será todo mundo que vai fazer bem. Eu, por exemplo, adoraria jogar futebol pelo Barcelona. Mas isso não vai acontecer. Bem… Talvez aconteça (risos).
Numa banda que já experimentou do punk, do pop e da eletrônica, haveria espaço para a música brasileira?
A música brasileira é tratada com respeito no mundo inteiro. O Brasil criou um ritmo próprio, uma mistura muito particular, com raízes africanas. Desconfio que seja um pouco como o futebol brasileiro. Mas não sei se eu conseguiria me inspirar na música do seu país. A música que eu faço vem do lugar onde eu nasci, vem da forma como eu fui criado. Mas sabemos que o Brasil é um país musical, um país de artistas. Até o presidente do Brasil parece um artista, não é?
O que Brasília inspira?
Recentemente, li um texto de uma pessoa que esteve em Brasília. Eu sei que as cidades brasileiras são muito diferentes umas das outras, que o Rio é muito diferente de São Paulo. Alguém me disse que Brasília é um lugar muito agradável porque é uma cidade grande, mas com muito espaço livre. Estou ansioso.
SIMPLE MINDS EM BRASÍLIA
Sábado, 21 de agosto, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos a R$ 80 (área Zoon) e R$ 150 (área VIP, com open bar). Preços de meia entrada. Pontos de venda: lojas Free Corner, Informações: 8215- 7822 / 8118-6800. Não recomendado para menores de 14 anos.
Por:Tiago Faria (Correio Brasiliense)
O autor de sucessos como Alive and kicking conversou com o Correio por telefone, de um hotel em Paris. No dia seguinte, o band leader cumpriria um antigo ritual: no palco do Festival des Voix du Gaou, interpretaria 22 canções que ele chama de “clássicas”. Para os fãs, o Simple Minds merece o adjetivo — mais do que um grupo de rock, trata-se de um sobrevivente. Encomendado para a trilha do filme O clube dos cinco, de 1985, o hit Don’t you (forget about me), escrito por Keith Forsey, é apenas um dos sinais de longevidade de um grupo que, por muito tempo, foi tratado como um “genérico” do U2.
É nos palcos, no entanto, que as turbinas do quarteto ganham potência máxima. Mas o traquejo não amaciou o baque que o grupo, formado em 1978, sofreu durante os anos 1990. Após várias trocas de integrantes, só restaram Kerr e o guitarrista e tecladista Charles Burchill, amigos de infância. O baterista Mel Gaynor está na banda desde 1982, mas entre idas e vindas.
A reinvenção do Simple Minds foi providenciada, em grande parte, pelos fãs. Os shows voltaram a lotar. O disco Graffiti soul, lançado no ano passado, recebeu até adjetivos bondosos da crítica. Hoje, Kerr vive entre Nice (França) e Sicília (Itália). Já Burchill mora em Roma. “Ainda somos melhores amigos. Durante a turnê, dentro do ônibus, conseguimos conversar por cinco, seis horas, sobre todo tipo de assunto”, conta Kerr.
O ativismo político — que era “in” nos anos 1980 — deixou a lista de prioridades do cantor. O mundo anda complicado, ele explica. E o pop não é mais o mesmo. Há duas décadas, o ex-marido de Chrissie Hynde (Pretenders) divagava sobre o Muro de Berlim e o apartheid. Hoje, prefere se dedicar à procura pelo refrão mais agradável e a um sutil recomeço, no projeto paralelo Lostboy. Em entrevista ao Correio, o vocalista comenta o legado do rock dos anos 1980 e explica a nova fase do grupo. “Tenho experiência, mas adoro a sensação de começar do zero”, revela.
O rock dos anos 1980 está em alta. A década foi finalmente reabilitada?
Acredito que sim. É verdade. Por muito tempo, os anos 1980 foram criticados. Diziam que era um período de pompa, de exageros. Mas acredito que, para que um determinado período da história da música seja reconhecido, sempre leva um tempo. Mas hoje, felizmente, a década voltou a ser conhecida como um período de boa música.
O Simple Minds, apesar dessa onda, se torna uma banda cada vez mais direta. É o caminho?
A banda passou a lidar com a música de uma forma mais simples. É uma forma de gravar que, no momento, nos interessa mais. É inevitável. Mas não é uma escolha radical: nós amamos os anos 1980 e amamos o tempo presente. Principalmente, amamos o que estamos fazendo neste exato momento.
As letras da banda estão menos engajadas. Política ainda combina com rock?
Eu acredito que a política mudou desde os anos 1980. Os problemas mudaram. As questões são diferentes. Nos anos 1980, a realidade mundial era muito polarizada. Era fácil identificar os malvados, os vilões. Havia Ronald Reagan, por exemplo, o Muro de Berlim, o apartheid. Agora o mundo está diferente, mais complexo. Mas ainda acho que a arte pode ajudar a organizar opiniões, a mostrar o que está acontecendo no planeta. O problema é que a música não tem mais o poder de formar grandes plateias. Nos anos 1980, todo mundo ouvia música. A mensagem chegava a todos.
Hoje, são poucas as megabandas… Ficou mais difícil formar um público grande. Meu filho mais novo, que tem 18 anos, é um exemplo disso. Ele gosta de uma banda que só tem um disco e, pouco tempo depois, deixa de gostar. Talvez tenha aumentado o deficit de atenção de quem ouve música.
Com a internet e os selos independentes, há cada vez mais bandas iniciantes. Mas poucas duram tanto quanto um Simple Minds, um U2. O que acontece?
Eu percebo muitos casos de bandas que se destacam logo na estreia. Elas aparecem e têm apenas um grande disco. Não sei o que acontece… Mas talvez não seja bom fazer sucesso logo no início da carreira. Talvez você deva buscar o sucesso depois do quarto, quinto disco. Pense em algumas das bandas mais conhecidas dos anos 1980, como o U2 e o Depeche Mode. Elas não fizeram sucesso nos três primeiros discos. Elas tiveram que gravar mais álbuns. Quando você está no começo da carreira, o momento é de aprender a sua arte. E isso demora um pouco.
Existe segredo para a longevidade no mundo pop?
Não acho que exista segredo… Mas há certas condições que são mais adequadas do que as outras. Bandas não costumam durar muito tempo. Eu sei disso. Normalmente elas acabam, é natural. Eu acho que é até uma questão de temperamento, entende? Há pessoas que são ótimos artistas, mas que não se adaptam a esse estilo de vida. Pessoas que não gostam de aparecer na mídia, que não gostam de viajar. Talvez eles sejam capazes de escrever ótimas canções, mas dão péssimas entrevistas.
Aumentou a pressão sobre as bandas novas?
Não acho que as cobranças sejam maiores. É complicado (fazer sucesso), era complicado e vai continuar a ser complicado. E acho até que essa complicação é necessária. Fazer boa arte não é coisa fácil. É claro que qualquer um deve se arriscar. Se você acha que tem talento, é importante tentar. Mas não será todo mundo que vai fazer bem. Eu, por exemplo, adoraria jogar futebol pelo Barcelona. Mas isso não vai acontecer. Bem… Talvez aconteça (risos).
Numa banda que já experimentou do punk, do pop e da eletrônica, haveria espaço para a música brasileira?
A música brasileira é tratada com respeito no mundo inteiro. O Brasil criou um ritmo próprio, uma mistura muito particular, com raízes africanas. Desconfio que seja um pouco como o futebol brasileiro. Mas não sei se eu conseguiria me inspirar na música do seu país. A música que eu faço vem do lugar onde eu nasci, vem da forma como eu fui criado. Mas sabemos que o Brasil é um país musical, um país de artistas. Até o presidente do Brasil parece um artista, não é?
O que Brasília inspira?
Recentemente, li um texto de uma pessoa que esteve em Brasília. Eu sei que as cidades brasileiras são muito diferentes umas das outras, que o Rio é muito diferente de São Paulo. Alguém me disse que Brasília é um lugar muito agradável porque é uma cidade grande, mas com muito espaço livre. Estou ansioso.
SIMPLE MINDS EM BRASÍLIA
Sábado, 21 de agosto, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos a R$ 80 (área Zoon) e R$ 150 (área VIP, com open bar). Preços de meia entrada. Pontos de venda: lojas Free Corner, Informações: 8215- 7822 / 8118-6800. Não recomendado para menores de 14 anos.
Por:Tiago Faria (Correio Brasiliense)
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